29 de maio de 2014

"Meta no rol, se faz favor"

Quem é que não se lembra das antigas mercearias? 

Olhando para a actualidade, onde as grande superfícies estão presentes no dia-a-dia dos portugueses (Portugal é o país na Europa com o maior número de grandes superfícies por metro quadrado e habitantes), e um passado onde as mercearias tinham um papel importante na sociedade, vemos que nos últimos 200 anos de história muita coisa mudou, principalmente na forma como compramos e interagimos com o comércio tradicional.
Há 200 anos, o conceito mercearia estava vincado na vivência das grandes e pequenas localidades, embora que a sua dimensão era bem diferente, tudo mudava conforme o número de clientes e habitantes locais. Nas pequenas mercearias do interior os produtos eram escassos, o poder de compra era baixo e nem todos tinham acesso aos bens de primeira necessidade. Mas mesmo assim as mercearias não deixavam de ter clientes à procura de novidades vindas da cidade.

Nas grandes cidades os negócios eram bem diferentes, a gama de produtos era maior e os produtos da horta eram fornecidos, bem como produtos diversos de mercearia. Com pequenas diferenças entre o interior e as grandes cidades, as mercearias tinham um papel de grande relevância social e de proximidade. Desde a confiança com os merceeiros, às conversas de bairro e sem esquecer as facilidades de pagamento ou pagamento no final do mês, que ficavam religiosamente escritas no rol de mercearia, faziam parte da rotina e do papel (de grande importância) das mercearias em Portugal.

Com o passar dos anos, desde o final dos anos 80 e início dos anos 90, as mercearias tradicionais perdem o seu papel social, graças ao aparecimento das grande superfícies nas cidades. Mas não foi só nas cidades... com a evolução do comércio as pequenas localidades também perderam estes espaços emblemáticos, embora que ainda hoje existem, mas em menor número e principalmente em pequenas localidades e aldeias do nosso país. 

Com o fim destes espaços de mercearia tradicional, e a proliferação de grandes espaços, onde a escolha é enorme, perdeu-se o atendimento personalizado, e por vezes, a qualidade dos produtos seleccionados, produzidos de forma caseira e em pequena escala. Com o crescimento destes espaços, surgiu a oportunidade de recriar o mesmo tipo de negócio, mas com um novo conceito, as Mercearias Finas. Com produtos de excelência, são vistos como o renascer das antigas mercearias, embora com uma visão e organização completamente distinta, indo ao encontro das necessidades e das exigências desta nova geração de clientes.


Quem não se lembra de pedir ao merceeiro para meter no rol? Quais são as suas lembranças das antigas mercearias?

Foto: Museu do Pão - Seia

1 comentário:

  1. Lembro-me de ir a com a minha mãe e a minha irmã mais pequena (e nós mal viamos a superfície do balcão alto, de miúdas que éramos) a uma certa mercearia em Bragança. Lembro-me vagamente de muita coisa pendurada no tecto (ainda hoje as lojas de ferragens vagamente me transportam para esse tempo), dos armários altos, das gavetas com muitos tipos de grão onde sabia bem afundar as mãos, mas "-Está quieta, menina, não se mexe em nada...", das cores, de alguns cheiros bons e de outros menos bons (Ai, as tripas secas para as alheiras e chouriços, bléck!...) Lembro-me sobretudo da simpatia das pessoas , das conversas postas em dia, com tempo, que não havia pressa para nada.

    ResponderEliminar

Dona Mécia. All rights reserved. Semilha Studio © Maira Gall.